O DITO CUJO
A minha alma espanta-se com muita coisa, mas há ainda coisas que, para além do espanto de alma me provocam absoluta perplexidade. O Blogue
Dito Cujo, desde logo espantoso pela sua impressionante colecção de barbaridades e que fiquei a conhecer pelo
Estarreja Light do meu amigo Zé Matos, apresenta a seguinte pérola, datada de 16 de Março último, a todos os níveis digna de registo e que, não fosse verdade, pareceria anedota:
“SÁBADO À NOITE EM MADRID
(…) E assim, numa singela manifestação de algumas centenas de pessoas, Espanha teria acordado para, no dia seguinte, votar não tanto a favor do PSOE mas definitivamente contra o PP. Terá de facto sido isso? Essa foi a impressão que tive do meu sofá, cá longe e no meu maravilhoso e invejável conforto (invejável comparando com a confusão que reinava em Espanha).
Esse foi o ponto alto da noite.
O ponto baixo foi mesmo ao lado.
Ricardo Gonçalves, o repórter de serviço da SIC, fez um desbrilharete de todo o tamanho. Não é que o gajo teve a lata de pôr em causa os manifestantes, mandando bocas inteligentes como: "Como é que sabes / Que provas tens que o governo de Aznar está a ocultar a verdade?"; "Porque é que está aqui a fazer uma manifestação política? Não devias estar em casa a reflectir para votar amanhã nas eleições?"; "Qual é o teu partido?"; "Quem é que te convocou?"
Fiquei atónito. Esse pirralho devia era aprender a estar calado. Um repórter, e um repórter de rua ainda mais, tem de aprender o seu lugar. E o seu lugar é reportar e ser neutro, imparcial. Mas foi exactamente o contrário do que aconteceu.
Ricardo Gonçalves queria colocar os manifestantes em cheque, utilizou técnicas quase franquistas para reduzir a sua importância e não reconheceu que, independentemente do timing, também na Espanha existe liberdade para realizar uma manifestação. Melhor ainda: ao contrário do que se vê constantemente em Portugal, naquela manifestação não houve aproveitamento político dos políticos de esquerda - pelo menos aparentemente - por nem sequer estarem presentes.
A SIC que se cuide se quer ser imparcial. Ah... peraí... a SIC, imparcial? De facto essa não faz sentido... Mas nesse caso será que plantaram perguntas no Ricardo Gonçalves? Ou seja, terá sido manipulado pelos seus superiores hierárquicos?
E não valerá a pena uma investigaçãozinha?
Este email seguiu para atendimento@sic.pt. Ai que bom!”
A mente iluminada que escreveu este chorrilho de baboseiras, para além de não saber patavina do que foi o franquismo, teria ficado muito bem como controleiro na redacção de qualquer Pravda. O conceito de Liberdade destes senhores acaba exactamente no seu umbigo, ou no términus da lâmina da sua opção política (ser imparcial é não fazer perguntas difíceis, pelo menos a manifestantes de esquerda…). Esta gente nem sequer teve a seriedade de identificar o repórter (tratava-se de Ricardo Costa, que para quem não sabe é irmão do Líder de Bancada do Partido Socialista), editor de política da SIC e um dos mais sérios, competentes e determinados jornalistas da nossa praça. A sua imparcialidade (até pela questão familiar) tem sido exemplar.