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O Sr. António "Tranqueira"


Será, por ventura, um abuso usar a alcunha pela qual era conhecido o Senhor António. A verdade é que sempre assim se chamou em Avanca ao homem simples e imagem imensa nas minhas recordações de infância que foi a enterrar na passada semana, aos 95 anos. Recordo-o como recordo os dias mais longínquos, ao balcão da sua loja, onde já dobrado à força dos anos nos atendia com silêncio e arrastava os pés entre os gestos que procuravam a mercearia.
A loja do Sr. António cheirava ao sabão de barra e às rações, cheirava ao cartão grosso com que embalava o que colocávamos no saco de plástico levado de casa, cheirava à madeira das estantes e à lixívia das limpezas. Só ali vi deitar azeite num velho medidor de vidro e branco esmalte que, suspeito, já não existe. Ali percebi que não convinha falar do pai do Quim, que perdia as tardes e o dinheiro entre copos do lado da tasca. Ali conheci os vizinhos, os que moravam a caminho da minha escola e os que eram do lado de cima da estrada e bebi um inesquecível copo cheio de Sumol com os 2$50 que sobraram de um passeio ao Portugal dos Pequenitos.
Tudo às mãos enrugadas e perante o olhar ténue, perdido na cara larga do Sr. António, que nos aviava em silêncio.


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